APOSTAR NO DESGASTE DO MOVIMENTO CONTINUA SENDO UM ERRO...

Andréia Lopes
18/06/2011 - 18h41 - Atualizado em 18/06/2011 - 18h41

A Gazeta

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Todos erraram
O que começa errado é mais difícil de ser consertado depois, e o que se vê na condução que o governo vem dando ao protesto dos estudantes é uma sucessão de erros que ganharam um explosivo a mais quando o presidente do TRE, Pedro Valls Feu Rosa, que nada tinha a ver com o protesto, entrou em cena chamando os estudantes e prometendo entregar a reivindicação deles ao vice-presidente da República, Michel Temer - que, aliás, pouca coisa ou nada poderia fazer para atender os pedidos. Afinal, o que o Planalto tem a ver com o preço da passagem de ônibus no Estado?
Estamos diante de um movimento difícil de ser compreendido e atendido porque nasceu da internet, tem lideranças pulverizadas, representantes que não se entendem e as reivindicações no começo eram pelo passe livre, depois chegaram à extinção do Batalhão de Missões Especiais (BME), à queda do secretário Henrique Herkenhoff e agora estão focadas na diminuição do preço da passagem.
Mas o governo começou errando quando primeiro colocou o petista Givaldo Vieira para ser o principal interlocutor com o movimento, resultando naquelas seis horas de negociação e de trânsito parado. Depois o vice-governador saiu de cena e foi para a França em missão oficial. Outro erro: o BME, já desgastado por conta da atuação na desapropriação de um terreno em Aracruz, demorou para agir e garantir o direito de ir e vir das pessoas naquele dia 2 de junho, mas depois se excedeu na Ufes, quando jogou bombas de gás e usou a violência para conter o protesto, atingindo também quem nada tinha a ver com ele.
Mas a responsabilidade pelo fiasco de quarta-feira passada, quando o Fórum Nacional da Reforma Eleitoral foi cancelado, também foi do TRE. É possível que os estudantes tentassem entrar no Centro de Convenções estando o desembargador Pedro Valls lá ou não - e, na hora do protesto, ele recebia Temer no Aeroporto de Vitória.
Mas o TRE errou ao entrar nessa negociação e prometer entregar carta de reivindicações ao vice-presidente e ao governador. Informações de bastidores dão conta de que havia divergências internas na própria organização do evento e houve pedidos do TRE para que não tivesse cordão de isolamento próximo ao Centro de Convenções. "Não queremos homem de preto e malhado na porta", teria dito uma das organizadoras.
A decisão de cancelar os outros dois dias de evento, provocando um desgaste nacional, não foi bem aceita pelo governo e por membros do Judiciário. Teria sido tomada por conta e risco de Pedro Valls - que depois disparou críticas à forma como a segurança que ele próprio pediu foi feita.
Interlocutores do governo provavelmente não vão rebater o desembargador para não criar uma crise maior entre Poderes. E também porque quem tem que entender de segurança não são os organizadores do evento do TRE, mas o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que cuida da proteção do presidente da República e do vice, e a Secretaria de Segurança. Se realmente o GSI ou o governo cederam às orientações do TRE, também erraram. A informação, inclusive, é de que o Batalhão de Missões Especiais foi para a garagem do Centro de Convenções, mas agora também parece haver um temor em acioná-lo e acontecer outro confronto violento com os estudantes. Ou seja: o governo ainda não conseguiu um meio termo entre garantir a ordem e evitar a violência.
O resultado foi uma vergonha coletiva e a derrota de todos. Os estudantes podem achar que saíram ganhando por terem conseguido barrar o vice-presidente. Mas as imagens dos excessos praticados por eles e os sinais obscenos em frente às câmeras de TV cada vez deixam uma má impressão para um protesto que é legítimo e que tem boa causa social. O governo aparenta descontrole e fraqueza. O TRE sofreu prejuízo financeiro e institucional - o Tribunal de Justiça não foi solidário a Pedro Valls e há críticas internas à decisão de cancelar um evento nacional. Todos perdemos.

http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/06/noticias/a_gazeta/politica/883016-a-lei-vale-para-todos.html

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