NOTA PÚBLICA DO CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DA 16ª REGIÃO ES O MOVIMENTO PELO “PASSE LIVRE”

Observamos ocorrer em Vitória/ES, nos dias 02 e 03 de junho de 2011, uma das mais intensas mobilizações na história capixaba acerca da redução dos preços das passagens de transporte coletivo.
No dia 02 de junho (quinta-feira) uma pequena mobilização com cerca de 100 a 200 pessoas, interrompeu o trânsito de capital de Vitória, a partir do Centro da Cidade, causando uma série de transtornos à mobilidade urbana e ao “direito” de ir e vir da população que trafega diariamente pela região. Trata-se de uma capital pequena e algumas vias, quando interrompidas causam sérios congestionamentos no tráfego de pessoas e mercadorias.

Esse protesto, composto em sua maioria por jovens estudantes universitários e secundaristas, foi então foi marcado por uma intervenção policial por meio do Batalhão de Missões Especiais (BME) que reprimiu com severidade e violência o agrupamento estudantil. Bala de borracha e gás lacrimogêneo (bombas de efeito moral) foram utilizados para conter o protesto. Muitas crianças e idosos que circulavam pelo local, foram atingidos, inclusive os que nada tinham a ver com o movimento. Todo esse atropelo durou um dia inteiro de negociações e enfretamentos até que alguns estudantes foram detidos e algemados, levados a delegacia para depoimento e demais procedimentos inerentes ao sistema de justiça.

No dia 03 de junho (sexta-feira) a mobilização foi muito maior, e cerca de 1.500 pessoas, incluindo estudantes, professores, profissionais de diversas categorias, militantes de movimentos sociais, se aglutinaram em frente à Universidade Federal e caminharam em protesto, contra a violência do BME, contra a mídia local, e contra o governo.

Em meio a isso, observamos entristecidos, a mídia local, atravessada por interesses diversos, utilizar-se de terminologia tendenciosa para desqualificar o movimento estudantil e dar ênfase àqueles participantes do movimento que infelizmente entendem que se protesta pela força bruta e não pelo diálogo. Que conflito significa luta corporal e agressão verbal. O BME nesse contexto é a força legítima que o Estado utiliza para conter manifestações consideradas perigosas à sociedade, e naquele momento, eram os estudantes e demais agregados ao movimento, os “perigosos”. Cabe ir além e afirmar sem medo: com a permissão de uma boa parcela da população espírito santense!

A sociedade pode e deve se manifestar de todas as formas possíveis, sem violência, sem humilhação, sem sofrimento. O movimento de resistência às formas dominantes de poder, de ser e estar no mundo, podem e devem ser repudiadas. O objetivo de toda e qualquer manifestação deve ser a melhoria da qualidade de vida de todos e todas, independente das separações sociais a todos nós impostas.

Por isso, o CRP 16ª Região ES apoia os movimentos sociais que, através do diálogo, da reflexão contínua e sistemática e da ação política organizada alertem a sociedade sobre seus direitos e deveres em prol do bem comum. O CRP16ª Região ES repudia toda e qualquer ação violenta, seja da polícia ou de qualquer militância, que se propõe a dignificar a vida, a democracia e a liberdade de expressão.

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