O ESTADO COMO TRAMPOLIM

2 mar 2012 | 
O anúncio da saída de Paulo Ruy Carnelli da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, após mamar durante quase uma década no governo Paulo Hartung e agora no de Casagrande, é mais um caso clássico de políticos que estão usando cargos públicos como trampolim para chegar à iniciativa privada por meio de atalho.
O precursor da ideia no Estado é o ex-governador Paulo Hartung, que faz escola e arrebanha um número cada vez maior de seguidores que se orientam pelas pegadas do “mestre”. Eles também querem se tornar consultores de sucesso.
Hartung, depois que deixou o governo, fez uma viagem de lazer de três meses aos Estados Unidos, comprou meia dúzia de livros de economia, que deve ter folheado no próprio voo de volta para o Brasil, para se transformar em consultor de primeira linhagem. Fácil, assim.
A Econos, empresa de consultoria de Hartung, foi formada em sociedade com outro remanescente do seu governo, o ex-secretário de Fazenda José Teófilo de Oliveira. A carteira de clientes da consultoria, como não podia ser diferente, não partiu do zero. Nasceu como uma lista seleta de empresas que já eram velhas conhecidas do ex-governador.
Paulo Ruy Carnelli também optou pelo modelo hartunguete de “vencer na vida”. Já avisou que está trocando a Secretaria de Meio Ambiente por uma consultoria na área de saneamento. Os sete anos que ficou à frente da Cesan conjugados à presidência da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (AESBE), o credenciaram como “autoridade” no assunto.
Agora fica mais claro por que Paulo Ruy não quis abrir mão do conselho da Cesan, mesmo depois de ser nomeado secretário de Meio Ambiente no início do governo Casagrande. O acumulo de funções, que foi julgado como “não conflitante” pelo Conselho Estadual de Ética, na verdade escondia o interesse de Paulo Ruy de manter seu lobby ativo dentro da empresa de águas, seu principal mote de trabalho nesta nova fase de sua vida profissional. Ele mesmo admitiu, em outras palavras, que quer “deixar as portas abertas no governo”. É lógico, vai precisar.
A nova carreira de consultor que se emenda à passagem por cargos públicos estratégicos pela administração pública vem se desenhando como um novo arranjo de Paulo Hartung para manter o controle de fora para dentro do governo.
O novo modelo, que também é conhecido como “tráfico de influência” e tem o intuito de atender aos interesses de grupos e empresas, é vendido como algo inofensivo e justo. Afinal, o ex-governador ou o ex-secretário, após encerrar seu ciclo na vida pública, não teria direito de retornar ao mercado de trabalho para ganhar honestamente o seu dinheiro?
A apropriação do que é público para fins privados sempre foi um tema controverso. Escândalos protagonizados por homens públicos como Zé Dirceu ou Palocci são apenas dois exemplos recentes.
No caso de Hartung e cia, não haveria nada de errado com o novo ciclo profissional, se eles estivessem completamente desvinculados da administração pública e da vida política. Não é o caso. Tanto Hartung como Carnelli continuam se apropriando do que é público para atender a interesses privados.
Como esses movimentos são invariavelmente velados e os interesses que os movem quase sempre secretos, o chamado tráfico de influência vira sinônimo da labuta diária de “ex-políticos” abnegados que continuam doando o suor de seus trabalhos para ganhar o honestamente o pão de cada dia. Afinal, nunca enriqueceram com a política para poder amarrar o burro na sombra. Não é verdade.
Fonte: Século Diário

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Comentários

  1. O julgamento de alguém deve se dar pela sua história. Infelizmente o Brasil está cheio de exemplos ruins e aí o autor da análise tem razão. Mas este efetivamente não é o caso de Paulo Rui.

    É por essas e por outras que está cada vez mais dificil participar honradamente da vida politica no país. Hoje escreve-se sobre o profissionalismo do PR esquecendo-se do passado não tão distante do governo estadual onde teve início a bancarrota que levou a uma intervenção forte no nosso estado.

    Sobre o Paulo sou testemunha do profissionalismo e do esforço para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, cresceu desde a base da carreira até chegar a cargos de gestão na Escelsa pública e privada, sem arranhões ou sem ferir seus amigos e, até mesmo, aqueles com ideais contrários.

    Foi convidado e desempenhou suas funções nos Poderes Públicos Municipal e Estadual com a mesma ética e profissionalismo. E deixa a administração pública para, novamente, buscar novos desafios e crescimento profissional.

    O bom profissional é convidado para prestar serviços em outras empresas ou mesmo ao Poder Público, tão carente de profissionalismo e com excesso de “cabos eleitorais”. Neste caso específico é o ser humano evoluindo crescendo, sem comodismo e sem querer ficar infinitamente no setor público, sabendo que poderá prestar serviços à sociedade do nosso estado.

    Criticar sem conhecer ou mesmo por conhecer, querendo opor por opor é fruto da banalidade digna dos folhetins sensacionalistas.
    Como postei pela conta do Google e não vi publicado replico como Anonimo.
    Joel Pacheco

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