QUEM ABANDONOU O BENFEITOR?


A Demostenes – O benfeitor de negros está abandonado

                                                                                                                      Yedo Ferreira

Abril de 2012


A ingratidão é a pior atitude que um ser humano pode ter. A incoerência também e outras atitudes um pouco menos, porém, entre essas há aquelas como a soberba e a arrogância, que, ao impedir que reconheça os seus erros e equívocos, marca para sempre os arroubos cometidos em determinados momentos da vida de uma pessoa.

Os (as) negros (as) que no dia da aprovação na Comissão do Senado do Estatuto da Igualdade Racial, de mãos dadas com o senador Demostenes Torres (DEM-GO), alegres e faceiros bailaram (?) e cantaram o belo samba de dona Ivone Lara, O Sorriso Negro (não apropriado para aquele infeliz momento) têm que pensar no que acima está escrito.

Nas últimas semanas o co-autor do Estatuto de Promoção da Igualdade Racial, o senador Demostenes Torres – fez aprovar algumas emendas que o tornou co-autor deste Estatuto de autoria do Senador Paulo Paim batizando o mesmo com o nome de Lei Demostenes e Lorenzoni – tem sofrido uma campanha na mídia pelas suas relações com o rico empresário do Jogo do Bicho, Carlinho Cachoeira.

O que se percebe é que o senador Demostenes Torres, um paladino, como homem de grande bravura, retidão de caráter e guardião no Senado, da ética e dos bons costumes, encontra-se abandonado pelos (as) negros (as) que a época "teceram loas" ao Estatuto de sua co-autoria, como "a aprovação (do Estatuto) foi um grande avanço, disse Edson Santos (SEPPIR), o Edson França (UNEGRO), "o Estatuto reafirma a vanguarda (?) do Brasil no ordenamento jurídico para a promoção da igualdade racial" e que com a aprovação do Estatuto, "o negro está em festa, é uma data histórica," afirmou por fim Eduardo de Oliveira (CNAB-SP), reconhecendo esses e os demais presentes que se não fosse o grande desprendimento do senador Demostenes, o Estatuto da Igualdade Racial não seria aprovado.

Dias desses, Marcelo Dias (MNU-RJ) declarou que a aplicação do Estatuto pela sua superintendência de igualdade racial do governo Sergio Cabral, no prazo de dez anos a igualdade racial estará plenamente instalada no serviço público estadual entre brancos e negros no Rio de janeiro.

Com a declaração desses negros e de algumas negras também, há de se acreditar ser o senador Demostenes Torres um grande benfeitor dos (as) negros (as) – os (as) que acreditam nesta impostura que são o Senador e seu Estatuto – e que, portanto existe uma grande ingratidão dos (as) negros (as) que estão sendo beneficiados pelo Estatuto da Igualdade Racial de sua co-autoria.

O incrível é admitir como o negro do Brasil tem uma grande vocação para repetir a história e sempre como farsa.

A alegria de negros (as) na aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, na Comissão do Senado Federal tem muita semelhança com a alegria dos negros no Palácio Imperial por ocasião da assinatura da Lei da Abolição da Escravidão no Brasil.

Com toda a certeza, por ocasião da assinatura da Lei Áurea alguns negros devem ter alertado aqueles negros alegres que estiveram no "beija a mão" da Princesa Isabel, no Palácio Imperial, de ser a mesma uma lei inócua, que concedia a liberdade ao escravo, mas não as condições efetivas para aproveitar a liberdade que lhe era dada em concessão. Não é demais lembrar as palavras de Patrice Lumbumba de que, "A História demonstra sempre que a liberdade não se oferece nunca numa bandeja de prata. A liberdade tem que ser conquistada".

O que não se deve esquecer, são os (as) negros (as) que consideram o Estatuto da Igualdade Racial a segunda Lei Áurea, embora para os (as) que assim pensam, contraditoriamente admitem que a Lei Áurea demonstrou com o passar das décadas ser a grande tragédia de negros e negras deste país.

Mas, o senador Demostenes Torres, que se assumiu como co-autor do Estatuto da Igualdade Racial ou está nesta condição elevada pelos (as) negros ( as) que querem a aplicação do Estatuto, não pensa (e até nega) que a escravidão tenha produzido distorções e desigualdades que tivessem que ser corrigidas pela Lei Áurea ou pelo Estatuto de sua co-autoria.

Uma vez que as pessoas citadas e outras mais escondidas no anonimato continuam endeusando a Lei Demostenes e Lorenzoni (Estatuto da Igualdade Racial), devem todos ficar agora ao lado do senador Demostenes Torres, solidários a um benfeitor (deles) – a princesa Isabel é a redentora – por ser o senador, co-autor da lei que faz com que todos (as) negros (as) sejam iguais aos brancos, ou vai fazer.

O que se espera do encontro de solidariedade é que os (as) negros (as) presentes, alegres e bailando, com certeza de mãos dadas ao Senador Demostenes Torres, a música cantada seja a que faz a Abertura da novela Escrava Isaura. "Vida de negro é difícil, é difícil como o qué...". As antigas negras velhas da Bahia não se cansavam de repetir que "o pior negro é o negro com espírito de cativo."

No livro "Não podemos esperar", Martin Luther King escreve que "todo povo possui sua parcela de covardes, oportunistas e traidores", concluindo, porém muito sabiamente que, "o importante é que as características dominantes da maioria seja a honra, a decência e a coragem."

Em 2009, por ocasião da aprovação na Comissão do Senado do Estatuto da Igualdade Racial com as emendas do Senador Demostenes Torres – recebidas com alegria por negros (as) presentes – Graça Santos dizia: "procurem se informar sobre o perfil do senador (Demostenes Torres) e verão o que têm pela frente". Atualíssima.

Na cota das "características dominantes" de Luther King, como a Graça Santos o Reginaldo Bispo também está e na ocasião da aprovação do estatuto reproduzia frase de Edna Roland; "lembremos-nos de Palmares. Há momentos em que somente a derrota pode nos salvar." Porém, a esta frase deve-se fazer a ressalva de que a derrota não salva ninguém. Mas, sempre deixa uma lição, que é o destino dos culpados pela derrota. O negro quilombola que dormiu no posto de sentinela e assim permitiu que os escravocratas derrotassem Palmares, foi sumariamente fuzilado por ordem de Zumbi.

Assim sendo, lembremos-nos de Palmares, não da derrota, mas deste fato marcante, o fim que teve o culpado por ela.

Shalom Pessach Samech!!!
Ras Editon Shelomo - Hebreu Etíope!

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